quinta-feira, 3 de março de 2011

República da Cerveja, um restaurante a evitar

Creio que esta é, infelizmente, a primeira vez que critico um restaurante sem conseguir alguma coisa, mesmo que quase nada, de que possa falar bem. Trata-se da República da Cerveja, no Parque das Nações. É zona que desconheço gastronomicamente mas onde tinha de se reunir, por conjuntura, o meu bando da Junqueira (cada vez menos da Junqueira, porque hoje bem estabelecidos fora dessa referência de má memória). Da Expo, só me lembrava de Fausto Aroldi, mas já saído para outras bandas. E bem me avisou o meu alter ego gastronómico, bom conhecedor de restaurantes, que nada havia de jeito nessa zona de novos ricos.
O comensal começa por se defrontar com um couvert de manteigas e paté de atum industriais, em pacotinhos, azeitonas banais e um queijo curado que nem vem fatiado. Enquanto espera pelo prato, pode ir  às cervejas, que, numa cervejaria alemã, deviam ser tentadoras. Afinal, oferta muito limitada (cinco variedades, incluindo uma “weiss” que bebi e que me fez saudades das cervejarias da Alemanha). Muito melhor ementa de cervejas é a de um bar meu predileto, o da carruagem em Oeiras, à beira-rio. A lista de vinhos é de rir, mas é verdade que não se espera grandes vinhos numa cervejaria, mas não a 2,15 € o copo de 2 dl de um vinho de prateleira baratucha de supermercado. E não deixa de ser bizarro que, para acompanhar o que se dirá a seguir, se proponha um Moët et Chandon (59,50 €) ou, a 29,50 €, um obscuro "espumante natural".
Não falo das entradas porque ninguém se tentou por elas e não tenho matéria de prova e crítica: salada de polvo, amêijoas à Bulhão Pato, gambas ao alho, tomate e mozzarela, pica pau, etc., muito imaginativo e a marcar a identidade do restaurante. Em média, cerca de 8 euros. Sopas, idem de dificuldade de crítica, apenas um a provar o creme de marisco a abundar de tomate.
Importante, claro que a secção “da Alemanha”. Como não podia deixar de exigir, lá vi salsichas e pernil. Com costeletas fumadas, era toda a ementa. Obviamente curta, mas lá vá, se fosse boa. Quando me falaram em lá ir, pensei, “boa, há muito tempo que não como o meu sortido típico, blutwurst, bratwurst e liberwurst”, o que me dava boas horas de recordação das idas à Alemanha quando as revivia no Biergarten de Cascais (ou até, mais prosaicamente, na sua filial do Cascais Shopping). Afinal, na ementa de ontem, apenas as medíocres salsichas de Nuremberga.
Quanto ao pernil, nada de eisbein ou do menos conhecido mas excelente axe berlinense. Simplesmente o pernil fumado que se vê hoje em qualquer supermercado, sem nenhum tratamento culinário posterior. Até se calhar boa coisa, porque tratar as costeletas fumadas como as comi, grelhadas, não lembra ao diabo. Qualquer das coisas com escolha de molhos, a regar abundantemente e opressivamente todo o prato. Só posso apreciar o de mostarda, porque ninguém pediu as outras ofertas, de cogumelos ou de cerveja preta. O de mostarda era uma coisa feita com base num bearnês industrial, claro que a saber muito mais a estragão do que a mostarda, com muita pimenta moída.
Obviamente, chucrute. Indiscritível. Era produto industrial, saído da lata sem qualquer tratamento e que, para disfarçar a inevitável acidez, levou, à modernaça, com boa dose de compota de frutos silvestres, bem visíveis. Vinha era bonita, moldada em cilindro… Batata é coisa que acompanha tradicionalmente estes pratos de cervejaria, ao lado da chucrute. Simples e boas batatas cozidas. Neste restaurante, um banal, mas ao menos não horroroso, puré de batata, todavia feito por cozinheiro que desconhece o que é noz moscada.
Um dos amigos foi a um “bife pimenta”. A descrição, na ementa, é “esmagamos no almofariz a pimenta que é envolta no bife". Descontando o pontapé na língua (o bife é que é envolto, não a pimenta), é o estilo de descrição de menu à Suspiro dos seus restaurantes do Campo Pequeno, com referência às esplendorosas meninas mas sem nada de elucidativo sobre o prato. Portanto, o meu amigo confiou na confeção consagrada do “steak au poivre”. O que lhe veio - e é pena porque o naco de vazia era bonito - foi um bife banal exageradamente envolvido em pimenta, mais branca do que preta, e a nadar em molho, ó céus, praticamente só de azeite. Como a estimável mas ignorante empregada não lhe resolveu o problema - em bom restaurante, pura e simplesmente devolver à cozinha - andei com ele em manobras de ensopar o bife em guardanapo e transferi-lo para prato seco. E só mais tarde me lembrei de que ninguém lhe perguntou qual era o ponto de fritura que ele queria.
Passando à sobremesa, tinha-se esgotado, às 20:30, a especialidade da casa, o strüdel. O que comi, trio de mousses de chocolate, podia ter sido encomendado a qualquer pastelaria de bairro. Ingenuamente, nem perguntei o que era, pensei logo que era triplo de chocolate preto, de leite e branco. Qual quê, era triplo de pequenas e insignificantes variedades de chocolate.
Para poder dizer alguma coisa de bom, ao menos o serviço? Simpático, porque são sempre simpáticos os jovens brasileiros que hoje andam por todos os restaurantes, mas com a falta de profissionalismo que conhecemos. E, ao menos, ao menos, os lavabos? Desajeitados, minúsculos. E ambiente tranquilo? Não, jogo de futebol aos berros em televisão mesmo em cima de nós.
No fim, 25 euros por pessoa. Em resumo, um restaurante de que se deve fugir a sete pés. 

P. S. - Vejo agora na net que este restaurante pertence ao mesmo grupo empresarial que detém os Capricciosa. Destes, conheço o de Carcavelos que, não tendo por grande restaurante, tenho frequentado com agrado e onde tenho comido bem, a nível da refeição descontraída, sem exigência. Alguma coisa está mal quando, no mesmo grupo e, julga-se, com a mesma supervisão culinária, podem coexistir coisas tão diversas.

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